As Duas Noções de Liberdade: Um reflexo dos conceitos antigos

 

Este texto é baseado no primeiro capítulo de “Liberdade e Propriedade: Ensaios sobre o poder das ideias”, ensaios transcritos de uma palestra de Mises, distribuído pela editora LVM.

          No final do século XVIII havia duas noções de liberdade muito distintas das noções de liberdade e livre-escolha que existem atualmente. A primeira, puramente acadêmica, sem norteamento político. Na vista dos autores gregos e da Europa latina, a liberdade não era algo que devesse ser concedido a todos os homens, era um privilégio de uma minoria.

          A democracia não era concebida pelo mesmo aspecto que temos hoje, era mais semelhante a uma oligarquia. A soberania dos cidadãos dotados de plenos direitos. A soberania dos cidadãos dotados de plenos direitos em uma comunidade onde as massas o compunham de metecos (estrangeiros) ou escravos.

          A segunda não era menos oligárquica, mesmo que não inspirada em aspectos literários. A liberdade provinha dos aristocratas proprietários de terra com o interesse de preservar seus privilégios perante o crescente poder dos reis absolutistas. Apenas na Inglaterra e na Holanda isso foi possível, ao resto da região europeia os príncipes saíram vitoriosos. Essa vitória contra as dinastias desses dois países não causaram a liberdade para todos, apenas a uma elite.

          Não devemos condenar esses homens hipócritas por defenderem a liberdade e enquanto limitavam a condição de uns à servidão e escravidão. Enfrentavam um problema sem solução satisfatória, em que a produção limitada não continha uma população em contínuo crescimento. O conflito entre o espaço limitado e esse constante crescimento fez pessoas caírem na miséria. Representavam uma ameaça à preservação da ordem social vigente e por um longo período ninguém foi capaz de pensar em uma ordem que solucionasse a crise de fome dos abastados. Conceder direitos civis era inviável pela falta de recursos. A solução era silenciá-los por meio de força.